agarra que é gatuno - IV

as pessoas gritavam: - é ele, é ele o gatuno, o filho da puta do preto!
eu bem tinha as minhas razões, dizia alguém, eu vi-o com estes olhos, fugir na direcção do campo de golfe. armou-se tamanho burburinho que os madiés da polícia tiveram que intervir.
tantavam acalmar os ânimos, e após algum tempo, não escondendo uma certa frustração, explicaram a custo que se tratava de um equívoco.
aquele indivíduo fora encontrado em estado de completa embriaguês e eles tinham-no feito acordar, explicaram. tratava-se apenas de um caso de rotina.
embora lhes apetecesse saciar aquela gente faminta que já tinha prometido fazer justiça com as próprias mãos, deram o seu ar de importância esticando novamente as fardas, e prometeram que haviam de encontrar o ladrão.
notei que as pessoas se encolheram um pouco envergonhadas mas num ápice desculparam-se erguendo novamente as cabeças usando aquela expressão que conhecíamos tão bem: - mas o raio dos pretos são todos iguais...
agora, eram os que tinham visto o ladrão ir na direcção das nossas casas que inchavam o peito.

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