Avó Maria | a mãe - II

a mãe que conhecia desde que se lembrava de ser gente, levou-a ao grande portão da casa e de chofre disparou,
- vem miúda,vem cumprimentar a tua mãe, e apontava a visitante que nos esperava, sem esconder o sarcasmo na voz. sentiu como que uma bofetada.assim de repente a mãe tornou-se uma impostora. mirou a outra, uma negra, que vestia panos e que a olhava com ternura. sentiu-se ultrajada.num acto de fúria e com o fraseado colonial aprendido com a cartilha atirou,
- não tenho mães pretas! não a conheço! deu meia volta e fugiu a chorar odiando o mundo...
a mulher negra ficou estarrecida. tinha trazido uma quinda de fuba,ovos e uma galinha para presentear a sua menina. entregou à outra que sorria.
depois de todo aquele tempo voltou a partir de mãos vazias.
emília soube depois pela avó, a mãe do pai, que a sua mãe a tinha abandonado ali à porta.tinha apenas seis meses de idade. tinha arranjado outro homem e não tinha querido saber mais dela. enfim uma história igual a muitas outras.
a fuba que a mãe trouxe tinham-na deitado fora, não servia nem para os criados nem para os animais, podia estar envenenada.
durante muito tempo sentia muita raiva da mãe, pelo que lhe fizera. sentia raiva até de si própria por ter nascido dela.

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