banho colectivo | o pai e o nosso mundo - I

íamos a caminho do moxico e corria o ano de sessenta e nove e foi a viagem mais longa de que me lembro de ter feito com o pai.
o pai era camionista. andava de cá para lá dias e noites sempregar olho. trabalho sem horário sem férias rasgando estradas poeirentas.
nas férias grandes da escola, levava sempre um de nós a passear. era o nosso presente por passar de ano. púnhamos as conversas em dia e aprendíamos estórias sobre pessoas e lugares. coisas sobre o mundo, milhões de coisas... - a vinda dos bohers no final da segunda guerra mundial,o tio luís a ouvir notícias da guerra, a senhorita Bárbara a professora primária do pai, os jogos de futebol com os pés descalços que fazia criar bitacaias, para não estragar o único par de botas de ensebar. as partidas ao s enhor padre, o doutor cirurgião da Chissamba que veio do Canadá e que fazia milagres, tratava toda a gente por igual e tinha enfermeiros pretos formados por ele a trabalhar ao seu lado,o doutor Stranguai como nós o conhecíamos e servia de referência para a figura do melhor médico do nosso mundo.
Cambambe,mabubas, o belo espectáculodas grandes barragens que nos faziam sentir pequenininhos,a nossa senhora do monte onde sai água a ferver das pedras. a grande proeza dos homens que rasgaram a serra para a construção da leba, a welwitchia do deserto, as uvas de moçâmedes, os cavalos do roçadas.
o pai que tinha saído de casa aos doze anos para se fazer à vida,já era um homem e foi tratar do seu sustento, sabia tanta coisa que sabia bem ouvi-lo.
aproveitávamos cada segundopois o pai passava mais tempo com a estrada que connosco.

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