A Casa Nova - I

Estávamos na casa nova. Aliás, ali para nós tudo era novo. A casa, a rua, o bairro, a cidade, as pessoas.
Na casa, paredes nuas, percorremos em silêncio a sala vazia, depois os quartos. Num deles, no do meio, uma trouxa de roupa a um campo. era a roupa do pai. Havia uma camisa nova de quadrados grandes. Achei-a mesmo linda!
O pai tinha vindo para a cidade grande com a cabeça cheia de sonhos, fazia já quase um ano. Tinha deixado a mãe e nós os quatro, ou melhor, cinco, pois tinha deixado a pequenina ainda a crescer dentro da barriga da mãe.
Ela ainda nasceu no sul, num bairro da periferia, rodeado de cedros e eucaliptos.
Lembro-me bem daquela época. De ficar horas e horas encostada à máquina rouca de costura alugada, seguindo os movimentos da mãe que se encaixava nela muito concentrada. Ela tinha a mana enrolada quase no meio das pernas que não paravam, num ritmo incessante que acompanhavam o matraquear do engenho.

Sem comentários: