agarra que é gatuno - III

eu de olhos bem abertos ía prestando atenção às conversas tentando perceber o que se passava. a certa altura, junto a nós, parou um jeep da polícia que vinha dos lados do embondeiro gigante que nos olhava lá do alto junto à casa pequena abandonada,do imenso campo de golfe. era lá onde íamos aos bandos à procura de bolas perdidas que os camones abandonavam e nem se davam ao trabalho de mandar o miudito carregador procurar, para as abrir e tirar as borrachinhas para derreter e fazer o visgo para apanhar catuituis.
dois polícias saíram do carro esticando as fardas e antes mesmo que dissessemos qualquer coisa, toda a gente se precipitou para o homem que estava sentado atrás no carro entre dois agentes.
acho que nunca vou esquecer aquele rosto. a sua cabeça tomara a cor avermelhada da terra. na sua cara uma crosta começara a formar-se da mistura de terra com sangue pegajoso que lhe saía de uma pequena abertura na testa, lhe tentava turvar os olhos, e se ía juntar ao fio que se soltava das narinas empapando-se depois entre os lábios bem aumentados.
apesar da gritaria, dos insultos da populaça que quase se atirava a ele mantivera-se sereno. os seus olhos não expressavam nem medo nem raiva. aqueles olhos, o corpo tombado para as pernas dobradas, rasgões quase tantos na pele como na roupa que trazia testemunhavam o tratamento que tivera.

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