muana puewo uneza | a mana primeira - III

nasceu mulher. seu homem ía endoidar de alegria.
esse não tinha dessas coisas, porque quero filho homem e etecetra, nada disso!
no meio do cansaço, suor a lavar o corpo, coxas empapadas do sangue sobre o pano que se colava e não se conhecia mais a cor, sorriu segurando o muana. sorriso quente de amor, de mãe.
o muana ainda se agarrava, mesmo já cá fora, a ela pelo cordão. nha kacela esfregou um pouco de cera numa linha forte, atou com a ajuda da mãe e cortou com uma tesoura a ligação.
quando se passa na lavra um londowe (liana fina), serve mesmo como linha encerada, disse-nos a mãe.
até aqui as coisas tinham corrido bem. faltava agora tirar do corpo tudo o que tinha lá dentro feito falta no muana pra crescer. agora já não podia mais ficar lá dentro, só perigava a vida da mãe. houve uma vez lembrou a mãe, num dos muitos casos, a nha kacela tinha mesmo que mandar soprar dentro da cabaça vazia agora nada disso estar ser preciso um pouco de força e um carregar sábio no ventre da mãe ajudava a conseguir tirar tudinho.
a selha já tinha água aquecida, cama já estava mudada.
tudo arranjado, mãe já com filho colado no peito, entra já seu homem feliz pra lh'abraçar.
enfermeiro chegou estava já tudo tratado.
nha kacela pusera mais um muana no mundo, corria o ano de 54.
desta vez,
muana puewo uneza! criança mulher chegou!

a mãe disse que a dignidade do povo luimbi, assenta no valor da descendência.
assim, quando se é mãe deixa-se de usar o nome, para passar a usar o nome do filho precedido do prefixo "nha"
do mesmo modo o pai para a usar o nome do filho mas com o prefixo "sa"
nha kacela - a mãe de kacela
sa kacela - o pai de kacela
se a memória bem o registou aqui fica...

Maio de 1985

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