agarra que é gatuno - V

neste momento, já os polícias tinham desaparecido com grande estardalhaço numa nuvem vermelha no jeep desengonçado deixando-nos a morder a poeira.
passou muito tempo para que eu viesse a perceber que não tinha sido por acaso que as pessoas se tinham juntado ao fundo do nosso quintal e diziam ter visto o ladrão fugir na direcção das nossas casas. para eles o autoir do roubo era alguém que ali morava. - ora, o nosso vizinho, senhor branco, que ganhou as divisas pela comissão em áfrica e que agora corria o ano de 68, até já era sub-chefe da polícia, era impossível que fosse, excluía-se portanto à partida. restávamos nós claro. então era isso, é que naquela altura na última rua do bairro, éramos os únicos a quem a mãe natureza tinha presenteado com uma cor diferente dos demais. os nossos iguais, amontoavam-se no calemba, o muceque a seguir à vala. daí que o dedo grande acusador apontasse naquela, na nossa direcção. a mãe estava comprometida e mal podia disfarçar a sua revolta. ela já pedia a todos os santos para que encontrassem o gatuno.

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