O meu presente - II

Desta vez não havia sonhos, bem bolos, nem a carne assada nem o bacalhau que entrava na casa de uma vez e entranhava o ambiente aquecendo-o de esperanças de fartura o ano inteiro.
A tradição colonial adaptada não podia nestes dias ser revivida mas a mãe fez questão de não esquecer mesmo assim os presentes para os mais novos.
E foi aí que aconteceu uma coisa engraçada, o meu presente ficou sem querer esquecido na cozinha.
E eu, que passava por todos os buraquinhos, vi-o, claro. Então apercebi-me do que se tratava. Esgueirei-me para a sala e senti que a mãe me loançou aquele olhar. Ela adivinhou a minha decoberta. De seguida, pediu ao mano mais velho que fosse devolver a caixa que estava na cozinha à vizinha do lado. Assim alto, de forma a que eu ouvisse bem.
Eu sabia o que a mãe me queria esconder. Aquele era de certeza o meu presente. Só que naquela altura aquela descoberta tinha-me criado um sério problema.
Ao invés de sentir o gozo de ver a atrapalhação dos crescidos ao perceberem que eu tinha descoberto o seu segredo, senti-me antes culpada por o ter visto...

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