O rio da cidade - IV

Corria o ano de sessenta e cinco.
A vida das pessoas mudou-se para a cidade. havia lá também agora um rio onde se podia tomar banho.
Só que lá, a água era parada. Não se podia lá lavar a roupa, as pessoas amontoavam-se e só tinha cimento à volta.
Tinham feito nascer a piscina.
Para mim, este rio era muito mais feio e tinha razões para o pensar.
Nunca mais podia apanhar os meus tolens-tolens, e neste rio eu não podia banhar-me de cuecas ou de combinação. Tinha que usar uma farda especial, um fato-de-banho que eu ainda não tinha.
Assim, limitava-me a olhar para as pessoas deliciadas mas cerimoniosas a saltar para a água.
Os militares que com esta farda só se conheciam pelas brincadeiras para impressionar as meninas rosadas do liceu.
Faziam-me pensar enquanto os apreciava agarrada à mão do mano que não me largava, olhando através das pernas dos grandes, e alguns cipaios que nos empurravam, as grandes torres humanas e piruetas que faziam no grande tanque, os risinhos das meninas, e percebia que aquela alegria era mesmo de pessoas que nunca tinham conhecido o nosso rio.


Abril / 1985

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