Vamos ao rio - II

Para nós era o rio. Não tinha nome e sabíamos que o podíamos voltar a encontrar lá mais ao longe, para os lados da cerâmica, bem mais violento, perto da Embala onde morreu, dizem que corajosamente, por orgulho, o homem de pedra que está ao pé da Câmara Municipal junto à Igreja e que foi dar o novo nome à minha terra.
Era no rio que íamos lavar a roupa. Levávamos uma grande trouxa e podíamos lá ficar toda a manhã, ou toda a tarde.
Eu, é claro, não parava quieta com a água a dar-me já pela cintura, com a minha combinação fina a colar-se ao peito e em baixo em jeito de pára-quedas a boiar, deliciava-me a apanhar tolens-tolens, era assim que chamávamos aos girinos.
Atravessando uma peqquena ponte e descendo pelo lado esquerdo bem assim como na nascente havia uma pedra que parecia ter sido talhada de propósito para esfregar a roupa até a deixar limpinha. A água sempre a correr também se encarregava disso.
Com sorte podia por vezes lavar uma pecinha de roupa. Punha-me de joelhos, prendia a saia entre as pernas e baixava-me para o rio igual aos crescidos. Segurava firme a peça entre as mãos com os braços estendidos para a água fresquinha, alternando com pancadas desajeitadas sobre a pedra lisa.

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