vó júlia | a velha augusta - I

era a mãe do pai a vó júlia.
a vó schultz, filha do alemão, a mãe de verdade que o gerou partiu ainda o pai era pequeno, e nessa altura já não vivia com o avô que já a tinha trocado numa ocasião em que adoeceu.
o pai cresceu no meio de irmãos, meio-irmãos, primos e filhos dos amigos do tio.
o luís, o tio luís era o irmão do avô que recolhia na roça toda a prole. homem de coração.
chegava mesmo a mandar as crianças para a escola, as do irmão e as dos amigos que vinham da metrópole tentar a sorte e deixavam os miúdos na roça.
alguns o pai já tem encontrado. fizeram-se doutores.
nesta roça onde nada faltava, eram educados por uma negra europeisada, autêntica governanta inglesa.
de forte personalidade fazia-se respeitar pelo branco.
supervisionava todo o trabalho da criadagem, cosia, bordava, cozinhava com requinte e educava as crianças. educação rígida, dura, no melhor padrão da época, a única que conhecera, recebera, emj que fora moldada.
as crianças tinham-lhe medo e não aprendera a amá-la.
assim, a velha augusta, era assim que a tratavam, quase dona de casa e mãe de todos os filhos dos outros, acabou numa esteira no chão sem uma manta para a tapar.
nos últimos tempos diziam que era feiticeira. chegou a adoecer e ninguém a queria visitar, acho que tinham medo...
não sei quem crou essas histórias, a velha feiticeira e não sei que mais, mas isto lembra-me sempre o que acontecia no tempo da inquisição, a sabedoria e a diferença nas mulheres tinha um preço muito alto. eram as bruxas que ardiam nas fogueiras.
ontem como hoje, os mitos criados à volta das mulheres pela transigência ou transgressão. daí que a velha augusta no seu tempo fosse distanciada de tudo e de todos quando as crianças se tornaram adultas e já não era precisa.

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