Witenga | corpo dengoso - III

Olhos felizes, sorriso rasgado, usava panos coloridos, quimono, Witenga usava até colares embelezando seu pescoço fino que lhe caíam no peito empinado.
Todos sabíamos que a natureza tinha feito naquele corpo dengoso, por equívoco, um homem, mas aceitavamo-lo assim mesmo no meio das mulheres.
Chegou o tempo do contrato.
Todos os homens das sanzalas foram chamados.
Ali mesmo, só velho e criança pequena escapava.
Witenga a quem teimosamente chamavam Witengo foi obrigado a ir na carroceria do camião apertado na multidão de homens apartados, uns contra os outros a caminho dos campos, cumprir o penoso trabalho compulsivo nas roças do café sisal ou algodão.
Contam os mais velhos que levou surra. Obrigaram-no até a pôr calças.
Passaram muitas chuvas, até que Witengo chegou mais os outros companheiros.
Vinha com as calças postas à força como amarras que lhe aprisionavam o corpo e lhe esmagavam a alma.
Chegou novamente a permuta e entre os risos, a alegria e o quente-morno das conversas das mulheres encontramos Witenga com os seus panos garridos o seu quimono e seus enfeites a quem nem o contrato mudou o seu ser.

Maio/1985

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