Quando cheguei engoli-te inteira e grávida de ti me vi
Então te pari estrada minha, de esperança concebida
no corredor estreito e escuro da sucessão dos dias e das noites
agora viva, tida inteira e verdadeira
Desfolhei-te nua clara negra cheia mansa lisa
lua noite brilho encanto e doce apelo
desflorando, cavalgando a madrugada
Percorri-te à luz dourada dos caminhos flamejantes
mergulhei-te na volúpia em quadros quentes vibrantes
amei-te no fulgor de nova vida prenhe e fresca a serpentear
Assim me vi colada às veias e nervuras do teu corpo
no curso do teu sangue pulsante a marcar o ritmo incessante e quase insano
sincopado sinuoso e gingado que te saltava em gargalhadas incontidas do teu peito
Senti-te ao toque ao tímido desejo no arrepio e conchego
no som inebriante em travos longos e vorazes de delírio e de desejo
no repouso adocicado da chama purpúrea do teu colo
Inalei em golfadas todo o ouro que exalavas ao meu redor aos borbotões.
E na geometria desconcertante das tuas linhas finas e rudes
bebi o cheiro o mel, unguento, transbordante o alimento da minha alma sedenta
na assimetria das paredes do teu corpo, o ardor, o calor picante, o gozo o mosto, o gosto
fez guião a estrela o horizonte, trave, tábua, o pão repasto da minha carne faminta
Assim apaziguada te desenhei em novo mapa
Esculpi-te no sabor que deslizava num saber sussurrante
que aumentava o ritmo, galgava as margens erguia as velas e tomava o leito
marcava a cadência incessante de uma dança iniciática
no clarão da explosão de êxtase e plenitude
E pintei de novo as ruas, tuas formas de passados em novos presentes
moldei-te nos contornos do futuro certo no errante do balanço
onde te achei no recente rítmico ziguezaguear de costuras renovadas
Quis voltar e tomar-te de novo estrada minha
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